A identificação das religiões afro-brasileiras com a identidade negra e a visão demoníaca da sociedade diante destas religiões
Ritual de iniciação de filhas de santo, Salvador,
1951. Fotografia de José Medeiros.
NASCIMENTO, Alessandra Amaral Soares. Candomblé e Umbanda: Práticas religiosas da
identidade negra no Brasil. RBSE, 9
(27): 923 a 944. ISSN 1676-8965, dezembro de 2010.
O candomblé, umbanda e demais religiões
afro-brasileiras são sempre associadas aos negros. Não conseguimos pensar nelas
(estas religiões) de forma separada, sem assimilá-las automaticamente aos
negros, e isso acontece de tal forma que até em uma cidade como Salvador, que a
presença destas religiões e demais influencias cultuais africanas é tão
presente, pensar em uma pessoa, não necessariamente branca, mas “não negra”
como praticante desta religiosidade soa estranho.
Mas é preciso ressaltar que esta religião não é
exclusivamente negra. No mundo atual, a participação diversificada neste cultos
tem crescido, o que facilita não só a quebra deste paradigma como também uma
melhor compreensão sobre como essa religião é em sua essência.
Esta ligação tão forte está relacionada a sua
origem histórica. Dentro destas práticas religiosas a presença muito forte da
resistência negra na época da escravidão, como forma de manter suas culturas e
poder manter sua identidade num lugar que lhe foi forçado a catequização e o batismo
por exemplo.
É importante lembrar que no começo dessas práticas
no Brasil, como geralmente se mantinham dentro de senzalas, não havia muita
interferência do lado de fora, então geralmente eram toleradas não só pelos
donos de escravos como pela Igreja. Com o final da escravidão, que os negros
foram libertos e passaram a morar em periferias e cortiços que sua religião
ganhou uma maior visualização, elas foram transferidas para o ar livre e
praticadas mais livremente.
Com a inquisição que elas receberam uma perseguição
forte, suas manifestações religiosas como cultos de transe, presença de
espíritos que possuíam os corpos dos fieis e em alguns casos sacrifícios de
animais assustavam aqueles que não conheciam e foi estereotipada de “magia
negra”. O fato destas religiões não se apresentarem voltadas para o maniqueísmo
como as religiões cristãs também ajudava nesta demonização. As pessoas que
praticavam tais cultos foram taxadas de ignorantes, pois eles seriam primitivos
e atrasados. Como dito pela autora Alessandra Amaral Soares:
“Muitos negros foram perseguidos e condenados pela
inquisição em suas visitações ao Brasil, que viam em seus transes uma
demonstração de possessão do demoníaco, e nos rituais prática de bruxaria ou
“magia negra” como se convencionou chamar dita magia feita para o mal.” (artigo
Candomblé e Umbanda: Práticas
religiosas da identidade negra
no Brasil, p. 929 da Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, Dez. 2010).
Hoje em dia essa visão ainda se perdura, apesar de
felizmente estar enfraquecida pelos amparos legais e sociais de defesa a
cultura e diversidade religiosa. Como o artigo 208 do Código Penal, que
estipula pena de um mês a um ano a todo aquele que “escarnecer de alguém
publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar
cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto
de culto religioso”; e a lei 10639/2003, que torna obrigatório o ensino da
cultura e história afro-brasileira nas escolas públicas e privadas.
É preciso, portanto, desmistificar a ideia de que os rituais
de destas práticas são de alguma forma malignos ou infernais. Ser diferente não
quer dizer maligno, porque elas não trazem um maniqueísmo tão bem formado, como
no caso das cristãs, são encaradas automaticamente como más.
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